28 janeiro 2007

Pagar para se manifestar

O Público, “Manifestantes alugam-se para causas sem activistas“, (24/01) dá conta de uma empresa alemã, Erento, com uma página na Internet, que «aluga» manifestantes. A empresa tem em carteira cerca de 300 «manifestantes» e os preços variam consoante o tempo de ocupação: 10 a 30 euros por hora, 145 por dia. A diferença do preço à hora deverá ter origem provavelmente nas qualificações do manifestante, pois, as características pessoais de cada um, o curriculum vitae faz parte da montra à escolha…
Parece não haver limites, mas há: os «manifestantes recusam participar em reuniões de carácter racista ou xenófobo». Segundo um destes manifestantes (23 anos), este é um trabalho como qualquer outro. Segundo um outro (22 anos) este recurso a figurantes «pode dar uma falsa ideia da democracia». Para este jovem, o problema está «se os manifestantes forem da extrema-direita», portanto, quanto à «extrema-esquerda», não há problemas. Mas este «manifestante» é snob, pois, «aqueles que pagam» devem corresponder à sua «ética». Qual? Ele quer manifestar-se «pela paz, pela solidariedade e pela justiça social». Ora, cá está um manifestante de ideias convictas e vistas largas. Não é crível que ele perca algum convite para manifestar-se sobre qualquer coisa que não caiba naqueles três itens anunciados. Mas isso pouco importará se o dinheiro cai na algibeira.
Depois, há que ter em conta que quem teve a ideia pela primeira vez, foi a organização sindical alemã, a Federação Nacional dos Médicos que em Dezembro de 2006 teria pago a estudantes e a desempregados para uma manifestação frente ao Reichstag contra a reforma da saúde na Alemanha.
O que prova que a classe média é medíocre na sua lassidão e impotência para se afirmar e até reivindicar. A sua grande dose de adaptabilidade não esconde, contudo, essa incapacidade para se reconhecer como tal, salvo casos esporádicos e exemplares, como quando se veste de consumidora ofendida nos seus direitos. De resto, o que assenta que nem uma luva naquilo que a caracteriza - uma posição económica invejável, às vezes beliscada -, a ideia típica do burguês burgesso, às vezes esperto, às vezes inteligente, às vezes inovador, às vezes capaz de se olhar ao espelho e ter um olhar crítico sobre si próprio, abrange a falta de motivação e cobardia que se esconde por detrás do pagamento a outrem para manifestar-se por si. Tudo o que tem de pior está aqui condensado neste acto de puro oportunismo, de pragmatismo serôdio e de pulhice moral. Os tempos estão por aqui. Se o dinheiro compra tudo, incluindo a alma, porque não comprará também a manifestação dessa baixeza?
O mais engraçado é que se poderia pensar que os sem ética são aqueles que compram os manifestantes, e não os próprios manifestantes. Ora, nada mais errado, pois, são estes que confessam que no leque das razões porque procuram este tipo de trabalho, está naturalmente o dinheiro, sempre ele. O que se é verdade que atenua ligeiramente o grau de avareza moral, não deixa de ser, no entanto, mais um sinal óbvio que estão por tudo, como se ganhar dinheiro pudesse justificar tudo, incluindo manifestar-se por conta de outros.
Outros porventura verão nestes manifestantes a encarnação de moderníssimos actores que incentivados pelo ordenado, aproveitam para melhorar a sua capacidade performativa e darem novos passos, quiçá, em carreiras artísticas. Não deixará de ser, por isso, a performance comprada para um exercício artístico que toma o lugar de outro. Aqui, há ocupação de lugares, e a troca de actores para desempenharem o mesmo papel nem sempre se justifica, sobretudo, quando o que está em causa não é tanto o texto, mas o contexto: o da preguiça idiota de uma classe.

27 janeiro 2007

Hitler poder ser comédia?

Hitler e a sua «sociedade perfeita» podem ser alvo de comédia? Há quem responda definitivamente que, aqui, não há lugar à comédia. Pois bem, a ser assim, o momento catártico ficaria sem possibilidades de existir, e o consolo devido a não sermos o que outros são, livrando-nos do horrível, também não teria lugar. Depois, Hitler e apaniguados continuariam votados a uma espécie de clausura fantasmática, que, por sua vez, velaria pelo povo alemão, contendo-o num abraço de morte, como se fosse eterno. Ora, nada é eterno, e as novas gerações alemães já descobriram o que é a comunhão de uma bandeira - como aconteceu no último mundial de futebol, lugar propenso às exacerbações nacionalistas. Ainda recentemente, Hitler surgiu no filme , «A Queda» como se fosse mais um de entre todos os seres humanos, construindo-se, assim, a sua humanização, o que equivale, simultaneamente, a tirá-lo do pódio dos monstros da humanidade, coisa que, na realidade já houvera sido feita há mais tempo, pois, a partir do momento que um Eichmann encarna o mal banal, então, qualquer ser humano - e Hitler é um ser humano, o filme recorda-o… - é um candidato cruel a praticar banalmente o mal. Somos todos seres humanos e é enquanto tais que somos capazes das maiores atrocidades. Quer dizer que não é nem enquanto monstros, mas também não é na qualidade de sub-humanos. Assim, a comédia de Hitler não é uma novidade nem assinala um novo rumo na abordagem do nazismo, mas confirma a tendência dos tempos actuais para fazer festa e entretenimento a propósito do que é porventura mais sagrado (sem ser religioso), mais protegido, mais recatado, ou mesmo onde seria suposto existir ainda uma boa dose de pudor. Sem pudor da profanação do que é caracteristicamente distinto, os tempos que correm precisam do riso da morte, do riso da violência do enforcamento gravado no telemóvel, do riso do horror da decapitação inesperada, de todos os risos de todas as mortes. Aos quais Hitler não escapa. Afinal, Hitler não era uma pessoa banal? Mais, afinal não era um ser humano como tantos outros? Chegados aqui é forçoso aceitar as consequências. Se não se quiser aceitar estas consequências, então é preciso rejeitar também as premissas.

24 janeiro 2007

Stephen Harper, ingénuo?

Ségolène Royal terá confundido «soberania e liberdade» com o facto de «as pessoas que votam» serem «soberanas e livres», no Quebeque (de expressão francesa). O primeiro-ministro canadiano, Stephen Harper, terá reagido assim: «A experiência mostra que é altamente impróprio para um líder estrangeiro interferir nas questões domésticas de outro país.»
O sr. Harper não deve andar muito bem informado do que a «experiência mostra» por esse mundo em tempos de globalização, onde toda a gente se mete com toda a gente, e que o princípio da «não ingerência nos assuntos internos de um país soberano», herdado da tempos da guerra fria, já passou à história.

23 janeiro 2007

Professores: nem consulta /referendo nem nada, apenas símbolos e esperança eterna

No dia 19, foi publicado no Diário da República sem mais delongas o Estatuto da Carreira Docente (ECD). A Fenprof, a principal estrutura sindical da Plataforma Sindical dos Professores, fez publicar na sua página da Internet um comunicado desta Plataforma em que se afirma ter sido instituído o dia 19 de Janeiro como «Dia Nacional de Luta dos Professores e Educadores Portugueses» que vigorará enquanto vigorar «este “ECD do ME”». o Título do comunicado diz textualmente: «19 de Janeiro - Dia Nacional de Luto».
Mais uma data simbólica foi assim estabelecida. No acervo da tralha simbólica os professores passam a ter uma data representativa da derrota real dos seus sindicatos na negociação como o ME, e, por outro lado, representativa da esperança e da luta que os mesmos sindicatos prometem para o futuro. Tanto assim é que este ano, para comemorar esta triste efeméride, «serão apenas divulgados cartazes de luto com a seguinte inscrição [a negrito]: “Quando o Governo está contra os Professores, a Educação não melhora. [Em negrito e em maiúsculas] Mas as trevas não são eternas!”» Ora, se este ano são apenas «cartazes», é certo e sabido que para o ano, este dia de luto simbólico que é também dia de luta originará mais um dia de greve. É como se, com toda a antecedência do mundo, a Plataforma estivesse a entregar o pré-aviso de greve, para o próximo ano e para todos os que se seguirão enquanto se mantiver o novo ECD!
É verdade que, entretanto, segundo a Plataforma, a luta continua com reuniões de «milhares e milhares de presenças», tal como prossegue no Parlamento, no Tribunal Constitucional e a nível internacional (OIT), o que não invalida que a Plataforma não se prepare para negociar as «24 matérias» que decorrem do ECD e que precisam de ser regulamentadas. Esta situação de estar contra o ECD, mas negociar matérias que dele decorrem é estranha e revela uma ambiguidade que com certeza não será fácil aos professores (di)gerir.
E, no entanto, esta ambiguidade assenta que nem uma luva no luto e na luta que os sindicalistas travam contra o ME a propósito do ECD. A Fenprof prometeu para este mês uma consulta/referendo aos professores. O mês está a acabar e, como se não bastasse, o ECD saiu incólume das mãos do Presidente da República. Isto significa tão só que já não cabe no horizonte temporal das actividades possíveis da Fenprof a organização da consulta/referendo que possibilitasse que todos os professores discutissem e se pronunciassem de forma inequívoca sobre o ECD. No fundo, se o ME não deu mais nenhuma oportunidade aos sindicatos para negociar o ECD, a Fenprof não deu nenhuma oportunidade aos professores para que estes, em «consulta/referendo», se pronunciassem sobre o ECD, com todas as consequências que daí necessariamente se imporiam.

20 janeiro 2007

O sr. Maliki e o sr. Bush discutem de boa fé?

O sr. Maliki e o sr. Bush discutem de boa fé?

Depois da justiça sangrenta sobre Saddam e seus colaboradores, o sr. Maliki e o sr. Bush trocaram piropos, acusando-se mutuamente de fraquezas, de falta de acção e de ambição. A administração norte-americana reclama sobre o que a administração iraquiana devia fazer e esta, por sua vez, faz o mesmo. Unha com carne, cada uma sabe que tem o destino inexoravelmente nas mãos da outra, e que ambas querem a mesma coisa, a pacificação, democrática ou não, do Iraque, ainda que divirjam quanto aos meios e prazos sobre como fazer isso.
Do que resulta que tem toda a legitimidade se colocar a seguinte questão: e quando divergem desta maneira, qual deles, o primeiro-ministro iraquiano, Maliki, ou o presidente norte-americano, Bush, está de boa fé? A resposta é óbvia: nenhum, porque qualquer um deles está profundamente mergulhado numa lógica de resolução do problema do Iraque, de tal maneira que ultrapassa a necessidade de boa fé para exigir a necessidade do cálculo segundo os objectivos particulares que cada um julga defender melhor, à custa do outro, contra o outro, apesar do outro.
Quando na imprensa portuguesa foi levantada a questão da má fé, retomada também do livro de Fernado Gil, Impasses, a partir da posição dos que apoiaram incondicionalmente a invasão do Iraque, não se deu conta nem se lhes exigiu que se retirassem da trincheira por que tinham optado sob pena de lhes ser retirada o aval da boa fé. É que a boa fé exige um cenário plausível do que merece credibilidade. E a credibilidade não é um sentimento nem guerreiro (À guerra, À guerra!) nem pacifista («Make love, not war), mas uma atitude mental de quem quer emitir uma opinião e para isso sonda o conjunto das opiniões em jogo, e representa-as acrescentando a sua própria opinião que é mais do que a sua, pois, efectuou a síntese das que com ela dialogou. Ao fazê-lo com imparcialidade, aquele que emite a opinião não está comprometido nem com um lado nem com outro, mas apenas com a sua própria consciência e a sua honestidade intelectual, visando o esclarecimento e não a mobilização, visando o entendimento e não a convocatória à acção. Esta é uma ideia da boa fé, que Hannah Arendt expressa em Verdade e Política.

17 janeiro 2007

Argumento de Lyotard

Argumento de Lyotard: «o projecto moderno (da realização da universalidade) não foi abandonado e esquecido, mas destruído, «liquidado»» por Auschwitz (enquanto símbolo paradigmático desse fim).
Se assim é, se este é o fim do projecto de emancipação e de universalidade (se não há lugar à reconciliação), então, este legado negativo de Auschwitz tem outro lado, o «positivo», o que permite afirmar, agora, que se a emancipação não é possível que se faça o que se quiser. É o regresso à abadia de Thélème: Faz o que quiseres. Só que muito tempo antes, antecipando a construção das narrativas de emancipação. A não ser que se considere que, afinal, Rabelais enunciou a libertação universal da abadia através da comédia, enquanto que as narrativas modernas de universalização fizeram-no através da tragédia. Neste caso, Até Marx, mais uma vez, ter-se-ia enganado ao julgar que a repetição é que originava a comédia. A História desmenti-lo-ia, assim, pois, depois da comédia da abadia de Thélème sucedeu-lhe a tragédia de Auschwitz.

16 janeiro 2007

Amadeo, Rivolição e o resto

A exposição de Amadeo de Sousa-Cardoso foi um êxito e a Fundação Calouste Gulbenkian está de parabéns pela capacidade que demonstra ter, ainda, para arrastar multidões à oferta cultural que proporciona, do que é exemplo esta exposição.
Este êxito é tentador. Permite, desde logo, ufanar-se e exclamar: Viram? Há público! Só temos de satisfazê-lo, dar-lhe o que ele quer e o que ele gosta e, assim, ele aparece. Mas permite ainda outra coisa, uma espécie de desforra relativamente ao Rivoli: os do Rivoli nunca fariam uma coisa destas, isto é, encher a casa de público, logo, não prestam, e ainda por cima, fazem-se caros e reclamam ao serem postos na rua («pobres e mal agradecidos» como disse João Jardim a Gonçalo Cadilhe pelo uso que este fez da Casa do Artista e não ter achado graça ter sido posto num hotel durante um fim de semana para que aquela Casa fosse usada para uma festa… de fim de semana). Portanto, estes artistas («artistas»?) não são capazes de darem ao povo/público o que ele quer. Se não fazem isso, então não prestam: rua! Interessará o projecto que esses artistas apresentam? Ou será que o que vale é simplesmente o critério do público: não têm público, logo não servem? Só este aspecto constitui um problema que é essencial a qualquer manifestação artística, seja para aceitá-lo seja para negá-lo.
O que interessa no caso, contudo, é a perspectiva de que a Gulbenkian faz o que o Rivoli não conseguia fazer: ter público. Ora, o embuste deste critério consiste em fazer colocar em pé de igualdade diferentes instituições com possibilidades diferentes para captar exactamente isso: público. Só a mais cabotina má-fé pode esconder as vezes que as televisões passaram entrevistas com a responsável da exposição da Gulbenkian, as vezes que fizeram reportagens da exposição a propósito da ida «espontânea» da comitiva do Presidente da República, e da visita não menos «espontânea» do sr. primeiro-ministro. Esquecer o papel que os órgãos de comunicação têm na divulgação e informação dos acontecimentos culturais, a forma como influenciam os públicos potenciais e os motivam num ou noutro sentido, é passar uma esponja na capacidade que a Gulbenkian tem para «produzir acontecimentos culturais», que muito poucas instituições podem igualar.
O que não quer dizer, também, que a Rivolição fosse algo que estruturasse um projecto vanguardista que merecesse apoio incontestável, mesmo sem público. Mas este é o problema de outra arte, da que não se dirige às massas, mas àqueles que são capazes de lhe dirigirem um olhar de reconhecimento da sua originalidade crítica, mesmo que o objecto da crítica seja simplesmente uma câmara municipal, ou o seu presidente.
Amadeo está entronizado, já não assusta nem escandaliza ninguém. A burguesia lisboeta adorou-o e fez serão para celebrá-lo. Quem disse que não tem esse direito?

12 janeiro 2007

Ad hominem: a farsa de Portugal e de Durão Barroso

Miguel Real: «… pode alguém tentar ser o que não é? A farsa reside aí. Uma das imagens mais eloquentes disso é o primeiro-ministro de Portugal, Durão Barroso, ao lado de Bush nos Açores. O pobre da choupana a receber o príncipe.» (Mil Folhas, 12/01/07)

11 janeiro 2007

A promulgação do ECD e a reacção dos srs. professores sindicalistas

João Dias da Silva (FNE) disse: "Não prescindimos do combate a um estatuto que não serve a qualidade do sistema educativo. O caminho legal ainda não está esgotado, uma vez que o Parlamento tem legitimidade legal e política para solicitar a discussão e a votação do Estatuto da Carreira Docente».
Mário Nogueira (Fenprof) terá garantido que chegou a vez da luta passar pelos deputados, já que os sindicatos têm o "compromisso de vários deputados da oposição, que vão subscrever um pedido de apreciação parlamentar do diploma". Acrescenta:
"Vários deputados disponibilizaram-se, além disso, para requerer ao Tribunal Constitucional a verificação da constitucionalidade do Estatuto da Carreira Docente, sendo precisas, para isso, 23 assinaturas".
Além do mais, portanto, para além desta luta parlamentar, o sindicalista adianta:
"Temos do nosso lado a força dos professores. Nunca houve um consenso tão alargado de rejeição de um diploma do Ministério da Educação e, por isso, a luta vai continuar". (Público, 10/01/07)
A verdade é esta: apesar da «força dos professores», quem está a «lutar» contra o ECD, segundo parece, são os srs. deputados já persuadidos a empenharem-se na «luta» por procuração. Depois, parece que serão os juízes do Tribunal Constitucional que continuarão a luta, sempre com a «força dos professores». Parece que se pede muito a outros que trabalhem pelos srs. professores, mas não se pede aos srs. professores que trabalhem eles mesmos por aquilo que é seu. Não foi a Fenprof que afirmou que convocaria os srs. professores para numa Consulta/Referendo sobre o ECD dizerem da sua justiça? Ora, daqui a dias estaremos a meio do mês, Janeiro, nomeado para essa consulta e apenas se ouvem referências à luta dos deputados contra o ECD.
A questão é: convocará a Fenprof a Consulta/Referendo que prometeu? Se não, porquê?

09 janeiro 2007

A segunda invasão do Iraque e outras notas

1. Será pertinente discutir as fronteiras da Europa? Tem de ser, por muito que não seja conveniente discutir esse assunto, e sobretudo chegar a alguma conclusão. Mas quando a Europa for capaz de dizer que aquilo que ela é, vai daqui até ali e não mais nem menos, que não interessa mais, que não quer mais, isso significará então que a Europa atingiu a maturidade, isto é, que se transformou naquilo que tem de ser.
2. O petróleo da Rússia deixa os países europeus mais dependentes dele num estado de alvoroço pela fraqueza que essa dependência mostra à saciedade. Nada no entanto comparável ao alvoroço que o plano da Comissão Europeia para uma política energética da União provocou quando o Presidente da Comissão apresentou esse plano a Bush, considerando-o como «uma nova revolução industrial». Só a pomposidade e o peso histórico de uma «revolução industrial» destas basta para ser perceptível o real significado das mudanças que um plano destes trará para a o uso da energia na Europa e quiçá no mundo… Durão Barroso está à frente desta Comissão.
3. Por todo o mundo consuma-se a ofensiva mediática sobre o que a Administração Bush fará no Iraque para resolver o «problema do Iraque»: reforçar as tropas invasoras a tal ponto que parece que estão a invadir pela primeira vez o mesmo território: mais soldados, mais soldados, milhares de soldados até que Bagdad acorde com um soldado norte-americano em cada esquina e as «zonas verdes» floresçam por todo os seus recantos…; segundo esta versão mediaticamente preparada e empolada, os «neocons» regressam em força fazendo com que os «primitivos» neocons sejam vistos como uma guarda-avançada que, depois de prestar o seu serviço à pátria, é substituída pelos outros porventura ainda «melhores» que os primeiros, o que é provado pela teimosia com que esta segunda vaga (de «neocons»), que agora vai influenciar a Administração Bush, sempre, «sempre»!, defendeu que a estratégia era outra, a de agora, a da segunda invasão, a de meter soldados norte-americanos em tudo o que é sítio, a de reintegrar os soldados baasistas (apenas tinham sido integrados alguns quadros superiores…), os funcionários baasistas, os quadros baasistas, numa palavra, reintegrar qualquer sunita que possa contribuir para mostrar como tudo pode ser gente «unida» em redor dos interesses norte-americanos e muita fé em Deus (se ele existir). Amanhã, Bush dirá da sua justiça, numa quarta-feira que passará a ser de cinzas. Muito antes do Carnaval.
É a guerra! Dizem os que não estão de má-fé.

04 janeiro 2007

Onde pára a «consulta/referendo» da Fenprof?

A 4 de Dezembro de 2006 foi escrito isto sobre a «Consulta/Referendo» que a Fenprof prometia: http://incensodois.blogspot.com/2006/12/referendo-do-estatuto-dos-professores.html

Naturalmente, dadas as dúvidas suscitadas, era forçoso confirmar se por acaso não teria havido qualquer mal entendido. Cá está a declaração de 24/11/06 extraída do sítio da Fenprof:

«FENPROF em acção
1. Promoção de uma campanha de informação e esclarecimento dos professores, através de reuniões nas escolas, assembleias de delegados sindicais e edição de documentos escritos;
2. Envolvimento em todas as acções decididas, e já anunciadas, pela Plataforma Sindical dos Professores: manter toda a acção prevista nos planos institucional e jurídico-constitucional; declarar o dia de publicação do ECD em Diário da República como Dia Nacional de Luto dos Professores; divulgar, através de Muppi's, cartazes e autocolantes, as diferenças de tratamento dado aos docentes pelos responsáveis pela Educação em França, Espanha e Portugal; Divulgar um texto/proposta de posição a ser aprovada pelos docentes nas reuniões de avaliação dos alunos que terão lugar em Dezembro;
3. Promoção de uma Consulta/Referendo Nacional junto dos professores e educadores portugueses, em Janeiro próximo, solicitando-lhes que manifestem a sua posição face ao ECD imposto pelo ME;
4. Solicitação de pareceres sobre a forma de concretização e eventuais consequências no plano jurídico de acções como a "greve de zelo" ou o "pedido de escusa de cargos de coordenação" por parte de professores que, assumindo-os hoje nas escolas, a partir da publicação do ECD deixarão de ser considerados competentes para os assumir.
24/11/206
O Secretariado Nacional da FENPROF»

A questão permanece: afinal haverá ou não «consulta/referendo» ao ECD dos professores do ensino não superior promovido pela Fenprof?

02 janeiro 2007

O cardeal, o papa e a morte das criancinhas

O cardeal-patriarca de Lisboa, José Policarpo, aquele que alguns viram como uma espécie de moderado dentro da igreja que faria a diferença na discussão do referendo sobre a IVG, é o mesmo que profere coisas como esta: «A vida não é um bem arbitrário de que se possa dispor ao sabor das políticas, de interesses pessoais ou mesmo de sofrimentos inevitáveis». Ao dizê-lo, Policarpo coloca-se no extremo mais conservador dos argumentos conservadores dos que defendem que a IVG nunca poderá ser justificada em nenhuma circunstância, nem mesmo face a «sofrimentos» eventualmente terríveis, mas que o sr. cardeal considera «inevitáveis». Uma mulher que pode morrer devido à gravidez e que padeça de sofrimentos extremos ver-se-ia, na óptica do sr. cardeal, constrangida a continuar com a gravidez de forma a garantir o nascimento do feto mesmo que isso se desse à custa da sua vida e à custa do «sofrimento inevitável». «Sofrimento inevitável»… Ó sr. cardeal, tanto não! Como é que se pode ser tão intolerante para os vivos querendo ser tolerante para aqueles que ainda não nasceram?
Mas, por outro lado, não é de admirar este tipo de argumentos. Quando o chefe da igreja católica, o «intelectual orgânico» Bento XVI, aquele cuja formação e trabalho daria uma capacidade intelectual acima da média, quanto mais não seja pela sua «organicidade»…, junta tudo no mesmo saco: «vítimas dos conflitos armados, do terrorismo» com «as mortes silenciosas provocadas pela fome, pelo aborto, pelas pesquisas sobre os embriões e pela eutanásia». O mais sui generis desta peroração é o facto de ao referir o aborto, Bento XVI estar a referir a morte de um embrião, mas ao referir a pesquisa sobre embriões, o «intelectual orgânico» está a explicitar propositadamente um erro na medida em que ninguém anda a matar embriões para a pesquisa científica, mas a aproveitar os embriões excedentários para esse efeito. A ideia de se produzirem embriões para a pesquisa científica é uma ideia deturpada e com efeitos práticos sobre as consciências atormentadas. Só o efeito propagandístico sobre mentes mal informadas pode justificar o uso de tão caluniosas ofensas à ciência. E no entanto sabemos que com tais objectivos vale tudo, seja que os cientistas matam embriões para fazer pesquisa científica, seja que com a IVG matam-se criancinhas ao pequeno-almoço, almoço e jantar.

01 janeiro 2007

DiaD, fim e astrologia

A revista DIAD, uma espécie de revista de economia «descomplicada» do jornal Público, vai acabar, se é que o último número publicado já não foi o último. Mas poderia acabar bem, com algum brio e profissionalismo, mesmo depois de o seu papel ter sido posto em causa quando passou das segundas para as sextas feiras. Agora, com o fim anunciado, o desacerto editorial parece ter tomado conta da revista no último número, que apresenta um tal de Maurício Bernis, astrólogo, como um guru para as empresas. Mais um pouco e seria natural que a DIAD descobrisse outras pérolas dedicadas à resolução de outros tantos problemas da sociedade portuguesa. Se assim fosse, seria quase uma pena que a revista desaparecesse… De qualquer forma, se sobrevivesse a este choque teria de adoptar outros cuidados pois, utilizar, por exemplo, o mesmo «comentário» para os «factos» da ordem do «patético» e «irrelevante» do «Quadro de honra» (DIAD, 29/12/06, p. 10) e para a «gestão» da ordem do «relevante» e «brilhante» é no mínimo curioso. No caso dos «factos» diz-se que «George W. Bush admitiu pela primeira vez que os E. U. não estão a ganhar a guerra do Iraque.» e acrescenta-se: «Excelente. Já só falta Paulo Bento e Fernando Santos admitirem que Sporting e Benfica não estão na liderança do campeonato de futebol.» Noutro caso, o da «Gestão», diz-se que «O Tribunal de Contas acusou a Refer de ter desperdiçado dinheiro nas obras de modernização da Linha do Norte.» E depois, lá vem outra vez: «Já só falta Paulo Bento e …» Chama-se a isto, acabar mal, muito mal.


Ad hominem:
«De Sarmento a Menezes [passando por Santana], nenhum deles conta. Aproveitam, como de costume, a oportunidade para se exibir. É um circo de pulgas. Mordem, não matam.» Vasco Pulido Valente (Público, 17/12/06)