02 março 2008

MIL a dar nas vistas

A definição do MIL: «O MIL: MOVIMENTO INTERNACIONAL LUSÓFONO é um movimento cultural e cívico recentemente criado, em associação com a NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI, projecto que conta já com quase quatrocentas adesões, de todos os países lusófonos.»
Enquanto movimento cultural e cívico, o MIL não se coíbe de alargar horizontes e, consequentemente, de ter uma agenda política-militar própria, uma espécie de visão geo-estratégica assente nalguma ingenuidade e, sobretudo, numa grande dose de voluntarismo. Só assim é compreensível a petição e os seus pressupostos que este movimento pôs a circular, com o objectivo de criar a famosa «força rápida de intervenção» a uma escala mais modesta, a do universo da lusofonia. Concretamente: «Os recentes acontecimentos trágicos em Timor-Leste deixaram uma vez mais evidente que existe a necessidade imperiosa de uma força policial e militarizada de manutenção de paz que, no quadro da ONU, possa agir no espaço da CPLP.» Há algum precedente que comprova no terreno a justificação de uma ideia destas? Há. «Esta força já demonstrou a sua necessidade durante o anterior conflito na Guiné-Bissau, quando uma pequena flotilha portuguesa foi capaz de realizar uma missão decisiva nesse país africano». Que outros efeitos benéficos se antevêem para a utilidade inquestionável desta força de prevenção e intervenção? Ora, esta «força policial e militar poderia, inclusivamente, potenciar a CPLP até um novo patamar de intervenção e participação no mundo e alavancar a defesa da presença do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, bem como prefigurar, a uma nova escala, a formação de uma verdadeira Comunidade Lusófona, enquanto espaço de paz e segurança para todos os povos que o destino quis unir por esse fio de Ariadne chamado "língua portuguesa"»
Simples. Um «movimento cultural e cívico» que tem uma visão política do papel e lugar da lusofonia e da CPLP, e que julga que a melhor maneira de dar fôlego ao espírito da comunidade é exactamente começando por criar uma força militar, constituída com recursos de todos os membros da CPLP, capaz de intervir em qualquer zaragata que por aí aconteça. Melhor do que isto, de facto, só uma revista «de cultura» para esclarecer os fundamentos teóricos da aventura lusófona. E o uso de rede de informação de Filosofia, Lekton, para propalar tão aguerrida veia belicista…