13 janeiro 2008

Sobre a medida do trabalho

«Resumindo, o facto de ter acabado a época em que o trabalho era mensurável tem na verdade enormes consequências, é uma mudança de civilização. Seattle assinalou a consciência social disto, uma badalada que soou forte.» (A. Negri, Adeus, Sr. Socialismo)
Portanto, o facto de não haver um sistema rígido de controlo de horas de começo e fim do trabalho, significaria que a liberdade de que o trabalhador disporia seria sinónimo da não mensurabilidade do trabalho. Como se não ter horários de trabalho, mas obrigados a trabalhar, tornasse os trabalhadores mais autónomos relativamente à quantidade de trabalho que justifica o vencimento recebido. Mesmo na liberal França, pioneira das 35 horas de trabalho, o relógio começou a andar para trás, pois, o sr. Sarkozy já denunciou a brincadeira das 35 horas e prometeu eliminá-la o mais rapidamente possível.
O que Negri tem em mente são aqueles trabalhadores que no campo da computação, informática e comunicação, dispõem de oportunidades para desenvolverem um determinado produto ou serviço em condições excepcionais, muitas vezes com elevados investimentos de capital de risco e que durante um determinado período de tempo mais não fazem senão trabalhar para esse efeito, apesar de poderem deitar-se às 5 horas da manhã e poderem escolher se em seguida, quando acordam, se vão trabalhar logo ou se ainda vão à piscina, ou jogar matraquilhos… Mas que isso acabe por tornar impossível que, no fim, se quantifique as horas dispendidas na produção do produto, não corresponde à realidade, ou não fosse Seattle uma construção americana. Pior ainda quando se generaliza completamente a falsa ideia de que a «época em que o trabalho era mensurável» acabou. Finalmente, é legítimo perguntar-se se alguma vez será possível prescindir da mensurabilidade do trabalho: desaparecendo esta medida, o que a substitui, seja em regime capitalista, socialista ou outra coisa qualquer?

Ad hominem: «Infelizmente, parece que os homens em geral e os portugueses em particular não são como os animais. Não aprendem.» António Barreto, ‘P’, 13/01/08