25 novembro 2007

Patrões ao lado dos trabalhadores, segundo o ‘Expresso’

O ‘Expresso’ noticia uma insólita chamada telefónica entre o presidente da CCP (Confederação do Comércio Português), José António Silva, e o secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva. Aquele explica que o seu telefonema, para além de felicitar este pelo lançamento do seu livro, foi aproveitado «ainda para o sondar sobre a hipótese de uma acção conjunta contra o aumento em flecha do desemprego, devido à lei do licenciamento comercial». Carvalho da Silva comenta que terá ouvido uma declaração de apoio «em termos a discutir» a «uma greve geral dos sindicatos». O que é ligeiramente diferente à superfície e radicalmente diferente em substância.
Primeiro, é de louvar que um telefonema entre duas pessoas adultas seja comentado na praça pública sem qualquer histeria à volta de escutas telefónicas. Como é que uma chamada telefónica destas vai parar aos jornalistas do ‘Expresso’, já é outra história, mas não menos despicienda, porque, na realidade, algum deles sentiu necessidade de publicitá-la, o que mostra que um quer falar do apoio do outro, ou que qualquer um quer aproveitar-se da dinâmica do outro.
Em segundo lugar, não menos interessante é notar-se que o princípio que o presidente da CCP parece querer defender é o de que, numa situação de aperto, mais vale darmos as mãos do que cada um lutar pelo seu lado, fazendo crer, assim, que os interesses de trabalhadores e de patrões são, senão tacticamente idênticos, pelo menos, pontualmente convergentes. Mas como a luta da CCP é contra as grandes superfícies, com as quais não podem nem sabem competir, e é-lhes difícil arregimentarem os trabalhadores contra elas, onde eles vão sistematicamente comprar os produtos de que necessitam, então torna-se mais fácil uma pretensa união de esforços entre trabalhadores e patrões, não contra as grandes superfícies, mas contra o governo que licencia as grandes superfícies, responsabilizando o governo por tudo: pela impossibilidade de concorrência entre os pequenos comerciantes e as grandes superfícies, pelo desemprego no sector, pelos horários permitidos, etc. Do outro lado, como a luta de classes já acabou, a resposta dos trabalhadores não é contra patrão nenhum, mas ao lado deles, contra o patrão de todos, o governo. A ideia comunista de que todas as lutas em convergência ainda um dia hão-de deitar abaixo um governo, está ainda por provar que não está errada…
Em terceiro lugar, muito provavelmente esta comunhão de esforços deverá traduzir-se numa santa aliança, quando aos trabalhadores e patrões juntar-se a outra confederação, a da fé, a dos senhores padres e bispos que perante a ameaça de cada vez mais verem as igrejas desertas aos domingos com os seus rebanhos tresmalhados pelos centros comerciais, não hesitarão em culpar também o governo e declarar o seu apoio à greve geral.