23 janeiro 2006

Retirada

Hoje é dia de emigração, uma espécie de fuga, uma retirada para outro lugar qualquer, mesmo que não exista, um abandono.
O problema maior é saber se a causa desse apetecimento é o facto de uns terem conseguido ganhar ou o de outros terem podido perder. Provavelmente serão os dois, mas se às celebrações de uns se opuser as acusações intestinas de outros - nas quais os próprios nunca são responsáveis pelo que aconteceu, mas os outros ao lado sim -, então, a sobranceria e o orgulho de cada um, toldando-lhes o espírito, fá-los permanecer no jogo de aparências, o que é irremediavelmente mais desconfortante do que a festa alheia.
E um movimento de retirada dos que não estão bem para fora do círculo estabelecido, em direcção a quê? E deixam sair? Podem?

05 janeiro 2006

Apontamentos de economia

Ferreira Leite diz que não se «arrepende», misturando moral com economia. Já antes misturara a sua condição de profissional da economia, exercendo a pasta do Ministério das Finanças, com a de doente «obcecada» pelo défice. Uma «obsessão» é uma patologia e Ferreira Leite não se coibiu de a manifestar e confessar publicamente. Agora, à defesa, não quer «arrepender-se» dos seus actos enquanto Ministra das Finanças. Na verdade, Ferreira Leite não precisa de arrependimento, coisa própria de candidatos a santos e a outras figuras de igual gabarito. Em vez de se arrepender precisa de se curar. De qualquer obsessão.

03 janeiro 2006

Paradigmas de mal

Pode não haver um princípio geral que prove que a tortura e o genocídio são condenáveis, mas isso não nos impede de os considerarmos casos paradigmáticos de mal.
Susan Neiman