03 abril 2008

António Coutinho e algumas questões sobre Filosofia

António Coutinho deu uma entrevista à revista ‘Visão’ (13/03) na qual tece algumas considerações inócuas e surpreendentes vindas de quem vem e que merecem pelo menos algumas interrogações.
Para ele a Filosofia continua igual ao tempo de Sócrates porque «não progrediu nada». Problema: se não há progresso em Filosofia, Coutinho tem razão. E se houver? E se houver, que tipo de progresso é o da Filosofia?
Em contraste com a Ciência que avança por hipóteses, excluindo as erradas, afirma Coutinho, a «Filosofia existe onde a ciência não chegou ainda». Problema: qual é o espaço próprio da Filosofia (se é que o tem)? O que a Ciência deixa? A Ciência nem é objecto da Filosofia?
Apenas «usamos uma parte potencial do nosso cérebro», diz Coutinho. Problema: não foi já desmentida tal afirmação? O cérebro não é uma máquina excepcional mas que tem limites? E que entre eles não está o facto de ao processar determinado tipo de operações o cérebro requerer certas zonas em detrimento de outras?
Ainda sobre o nosso conhecimento do cérebro, Coutinho diz que se percebermos a «função cerebral» e se soubemos «usar melhor o cérebro», poderemos «compreender o que estamos aqui a fazer ou o que é isso a que chamamos alma». Problema: Coutinho faz depender o sentido da existência humana do conhecimento do cérebro. Ora, poder-se-á afirmar que, assim, até esse conhecimento ser efectivo (se é que alguma vez o será), ninguém sabe o que anda aqui a fazer? Depois, esse sentido seria único, igual para todos? Será algo como: conhecemos o cérebro, tomem lá o sentido da vida?