16 julho 2006

Quando um líder envergonha

Ninguém está à espera que Bush, qual prestidigitador, seja capaz de melhorar a sua performance enquanto presidente dos EUA, e que seja suficientemente hábil, política e intelectualmente, para evitar fazer mais estragos do que aqueles que já fez e que mancham irremediavelmente a qualidade do seu trabalho, qualquer que seja o juízo menos exigente que sobre ele se possa fazer, excepto para os seus apaniguados e crentes, mesmo assim sempre mais silenciosos à medida que o tempo passa.
Desta vez, em terras russas e em reunião preparatória do G8, Bush, após a entrevista pessoal com Putin, achou que deveria tornar pública a sua conversa com o presidente russo e vai daí, declara aos jornalistas o seguinte: «Falei do meu desejo de contribuir para o desenvolvimento da democracia em diferentes países do mundo, como foi no Iraque, onde há liberdade de religião e liberdade de expressão. Muitos gostariam que semelhante democracia existisse também na Rússia.» Um presidente do Império que diz estas atoardas não é propriamente angélico, mas demoníaco, não quer a democracia, mas fachadas políticas que escondam os banhos de sangue no Iraque, não pensa sobre a realidade, mas sobre as suas fantasias e o seu próprio desejo, confundindo realidade e sonho. Quer dizer, Bush está em desvario completo e julga iludir os outros com as suas convicções. Putin respondeu-lhe deste modo: «Não quero para o meu país uma democracia como no Iraque». Resposta que terá tido o efeito de provocar uma gargalhada geral dos jornalistas presentes na conferência de imprensa dos dois presidentes.
Que uma gargalhada destas tenha feito Bush sentir-se pequenino, humilhado e medíocre, é o menos. Que o líder de uma grandiosa nação seja alguém tão medíocre, dá pena.