03 julho 2006

A «Chuva de Verão» e a tortura do sono

A memória ainda não deixou para trás que se esquecessem as torturas que a PIDE praticava, entre elas a tortura do sono, que consistia em impedir que um preso político, durante dias seguidos, pudesse dormir sequer alguns minutos. Para conseguir esse objectivo, os torturadores matraqueavam máquinas de escrever, batiam nos baldes, na mesa, e no próprio torturado. Interessava produzir o maior barulho possível com vista a manter a vigília forçada e quebrar desse modo a capacidade de discernimento do prisioneiro.
Agora, nos tempos que correm, estas práticas generalizam-se a regiões inteiras com 1,6 milhões de indivíduos a sofrerem em condições degradantes a mesma tortura. Mudam os meios, mas o resultado é o mesmo. Pior, se possível. É que, desta vez, a tortura do sono é oficial, é política de um Estado democrático e também fascista, de um Estado militarizado até à medula, de um Estado cuja prepotência é directamente proporcional ao sofrimento passado dos seus e dos outros contra quem vira a sua ira. Esse Estado é o de Israel, cujo primeiro-ministro, Ehud Olmert, mandou que o seu exército «intensificasse» as operações na Faixa de Gaza, como ainda fez questão se sublinhar que as tropas se devem assegurar de que «ninguém dorme à noite em Gaza». Para tanto, o exército israelita utiliza a explosão sónica de centenas de bombas de artilharia durante o dia e durante a noite.