23 junho 2006

Futebol, Luxemburgo e história I

No Luxemburgo gerou-se uma polémica entre a comunidade portuguesa e pelo menos dois jornais. No cerne da questão estão as bandeiras que os portugueses penduram nas janelas das suas casas, e também os seus festejos públicos, ensurdecedores e desrespeitadores do sossego e de regras essenciais com as de trânsito. A lei é até chamada à colação porque, segundo Fonck, a jornalista que despoletou o assunto, as bandeiras estrangeiras só podem ser desfraldadas junto de bandeira luxemburguesa. Além do mais, alega esta jornalista, está em causa o sossego e a paz públicas. Outro jornal veio a terreiro sublinhando o mau aproveitamento dos estudantes portugueses. Tudo isto revelaria má integração da comunidade portuguesa no Luxemburgo e a falta de respeito pelos valores tradicionais da sociedade luxemburguesa.
A resposta dos portugueses baseia-se em três razões: uma, a de que a sua alegria é genuína, natural e, portanto, não virada contra ninguém; outra, a de que se as mães portuguesas serviram as senhoras luxemburguesas, e os pais portugueses andaram a construir as casas luxemburguesas nos últimos trinta anos, algum direito devem ter de expressarem ruidosamente o seu contentamento pela selecção do seu país; o terceiro, o de que, o presidente do Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, enalteceu a comunidade portuguesa junto de Jorge Sampaio que se encontrava de visita, e disse publicamente que até luxemburgueses se tinham aliado aos portugueses nas comemorações durante o Europeu de Futebol de 2004, pelo que, conclui este argumento, não se percebe como um presidente de direita fala de apoio aos portugueses na festa, e uma jornalista dita de esquerda, Fonck, ataca os portugueses pelas mesmas celebrações.
De um lado, temos alguém que vitupera contra os excessos das manifestações públicas dos portugueses, na sua terra. De outro, temos os portugueses que se acham no direito de comemorar da forma como comemoram. O que significa que existem interesses e, sobretudo, pontos de vista bastante contraditórios em jogo. Pode a jornalista Fonck colocar a questão como colocou? A resposta só pode ser, pode e deve. Mais, é legítimo e também correcto que o faça. A começar por uma questão de bom senso, ou de juízo elementar: não é legítimo que qualquer um, a propósito do que quer que seja que queira celebrar, futebol ou outra coisa qualquer, incomode o sossego, a paz, a tranquilidade de quem está por perto. Há leis que preservam este espírito de tranquilidade pública. Não há nada a acrescentar sobre isto.