16 junho 2006

Moral para os marines

Na aldeia iraquiana de Haditha, os fabulosos marines norte-americanos terão entrado por uma casa adentro e morto toda a família iraquina que lá se encontrava, numa espécie de ataque cego e furioso por causa da morte de um camarada seu. Diligentes, os dirigentes norte-americanos apressaram-se nas declarações sobre inquéritos aos acontecimentos, bem como à necessidade de as tropas norte-americanas frequentarem cursos de moral e de ética…
Primeiro, a máquina militar prepara os seus soldados, ensina-os a matar, torna-os assassinos devidamente credenciados e legitimados, e, depois, vê-se obrigada a dar-lhes rédea curta, pois, é preciso refrear os ânimos, os ímpetos assassinos, torna-se necessário poli-los com alguma dose de civilização, com algumas pitadas de moral e de princípios éticos de modo a domesticar a vontade de matar. Compreende-se o embaraço de qualquer formador destes soldados que tenha de explicar-lhes que se uma bomba cai sobre uma casa e mata os seus ocupantes, isso faz parte da guerra, ou, no máximo, é um «dano colateral», mas que se eles entram na mesma casa e matam os seus ocupantes, isso constituiria um massacre. Mas são destas subtilezas que os soldados norte-americanos precisam, neste momento, enquanto não regressam a casa passados tanto tempo sobre a vitória moral anunciada pelo seu presidente, e os nervos continuam à flor da pele por nada daquilo se parecer com um passeio turístico numa quinta do Império.