17 maio 2006

Identidade europeia II

Timothy Arton Ash defende uma identidade europeia de certa forma escondida, como uma espécie de segunda pele, uma espécie de segundo abrigo para usar porventura quando estiver fora da sua ilha. Primeiro sou inglês e depois é que sou europeu, diz ele. A identidade europeia é assim uma noção transcendente, imbuída duma metafísica a desvendar, duma «essência» tão inalcançável, que é permitido fingir que se gosta da Europa sem se saber do que se trata quando se fala de «ser europeu».
Pois bem. Investigadores franceses e alemães construíram um livro, História, para alunos finalistas do liceu, dedicado à abordagem dos dois países no pós segunda guerra mundial, a partir de 1945, já a utilizar no próximo ano lectivo. Para além deste livro de História, já estão planeados mais outros dois, que abordarão a história franco-alemã antes de 1945.Este projecto tem o apoio das autoridades francesas e alemães, como é natural num projecto com esta natureza. Ora, sabemos quanto a partilha de uma história comum é, historicamente, difícil de concretizar. Exemplos como os casos do Japão com a China e com a Coreia do Sul são daqueles em que tal projecto é inexequível devido à quase aversão endémica dos seus povos, resultado da história comum, e porque tais países, enquanto entidades autónomas, têm vias diferentes de afirmação de si próprios e nem o seu futuro imediato passa por uma União. A Europa, pelo contrário, enquanto projecto aglutinador de países, requer que estes partilhem e aprofundem as suas raízes, as desenvolvam e, com isso, criem cidadãos europeus que não precisem de andar a pensar se usam um dia a camisola da nacionalidade de origem, e noutro dia, se usam a camisola da Europa. Os alemães e franceses estão a resolver a questão da identidade europeia, construindo-a. Timothy Garton, como historiador, também pode ajudar.