07 maio 2006

Apontamentos de economia 8

A ignorância em economia

António Borges declarou, entre outras coisas, que há «uma extraordinária ignorância em Portugal sobre economia». Depois de criticar as políticas do Governo que sofrem, naturalmente, dessa ignorância, mostrou alguma dificuldade em perceber o fosso, cada vez maior em Portugal, entre ricos e pobres, e terá dito: «Não se percebe como há gente que está tão bem.» Ora, das duas uma: ou, de facto, como António Borges diz, anda gente por aí que «está tão bem» na vida; ou, pelo contrário, o que está mal é que existe muita gente por aí que não está assim «tão bem». Mas que exista o fosso entre pobres e ricos, tão acentuado em Portugal, mostra que, até nisto, as políticas seguidas foram incapazes de encontrar um certo equilíbrio que permitisse aos mais ricos não parecerem aristocratas junto dos mais pobres, e aos mais pobres não parecerem pelintras junto dos mais ricos. Por outro lado, geralmente, os custos da ultrapassagem da crise são assacados precisamente a quem não tem tanto para estar «tão bem». O que é original é António Borges surpreender-se, não percebendo como é que, para lá da gente que está mal, exista gente que esteja bem, como se fosse da história que, em tempo de crise, ninguém estivesse bem. Esta preocupação vira-se contra o próprio, pois, como bancário, sabe muito bem como é que há gente que fica a viver «tão bem», e se ainda tiver dúvidas, qualquer «colega» administrador do banco BCP lhe explicará que a possibilidade de cada administrador poder ganhar até cerca de 10% dos lucros do banco, não passa disso mesmo, de uma possibilidade, mas séria. António Borges quer continuar a questionar porque é que, por exemplo, estes administradores estão «tão bem» na vida? Com certeza que não é por acaso nem por ignorância…