23 abril 2006

1600 trabalhadores e uma ausência

1600 trabalhadores e uma ausência

Manuel Maria Carrilho ausentou-se da reunião da Câmara Municipal de Lisboa e, por causa disso, não teriam passado para os quadros da Câmara 1600 trabalhadores. Um jornal de «referência» pespegou o efeito com a causa, em letras garrafais na primeira página: a falta de Maria Carrilho tinha impedido a efectivação daqueles trabalhadores. O que era manifestamente estranho.
Primeiro, porque não se tratava de 6, ou 60, ou 160 trabalhadores, mas de 1600!
O que deve ser absolutamente inédito na história da administração pública o facto de, numa assentada, por aprovação da Câmara, tornar efectivos tantos trabalhadores simultaneamente.
Segundo, duas hipóteses se colocavam para justificar a ausência de Maria Carrilho: uma, a de não querer ficar ligado a este processo de efectivação em massa, sabendo que, no actual estado das finanças públicas, a despesa com a massa salarial decorrente deste processo, era mais um contributo enorme no aumento das despesas do Estado, precisamente o que o governo do seu partido tem tentado evitar; outra, mais comezinha e manifestamente contra o carácter íntegro da pessoa e do político que é Maria Carrilho, a de este pura e simplesmente estar-se borrifando para o que se iria passar com aqueles trabalhadores.
Em terceiro lugar, coube ao próprio Maria Carrilho dissipar quaisquer dúvidas sobre as suas motivações. Em conferência de imprensa terá dito que ausentou-se devido a afazeres profissionais, i é, parlamentares, enquanto deputado da nação; terá dito ainda que, mesmo que a sua presença tivesse ajudado a aprovar aquela proposta, de nada serviria porque essa decisão seria chumbada na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, onde o PSD é maioritário; terá dito ainda que entre as suas funções de deputado da nação e a sua ocupação na Câmara de Lisboa, há toda a diferença, pois, na Câmara, Maria Carrilho, é «simplesmente vereador sem pelouro e sem salário».
É estranho, é tudo manifestamente estranho.