28 março 2006

Apontamentos de economia 4

O objectivo poético da privatização de empresas

Fukuyama: «A tendência para a privatização de actividades do sector público, como companhias aéreas, empresas de telecomunicações ou companhias petrolíferas estatais, visa submeter estas empresas a pressão de concorrência.» (A Construção de Estados, p.70)
Poder-se-ia julgar que a privatização deste tipo de empresas obedecesse a dois objectivos fundamentais: um, o de permitir que o Estado arrecade receitas pela venda dessas empresas; outro, o de essas empresas constituírem fontes de lucros, nas mãos privadas, tão certo quanto, se assim não fosse, os privados não porem nelas as mãos, isto é, não quererem a sua propriedade. Que, por força deste objectivo «empresarial» e de «mercado», os privados remodelem as empresas, as reformem, quer no que respeita a estruturas quer no que respeita a trabalhadores (que, geralmente, estão a mais), e as submetam à «competição do mercado», isso é um efeito e não uma causa, é a consequência «natural» de quem tem de sobreviver na selva capitalista e ainda quer obter lucro. Privatizar para, segundo Fukuyama, «submeter à concorrência», como se a concorrência fosse um fim em si, constitui a visão poética da economia, tal como aquela, inseparável desta, que diz que obter «lucros» é tão natural como o ar que respiramos.