11 março 2006

Não há valores?

A julgar por o que se passa noutras bandas e intramuros, não há de facto valores, pelo menos à primeira vista. A distribuição de certas quantias em dinheiro, para serem gastas em desporto e lazer, aos jovens ingleses mal comportados, para que mudem o seu comportamento e, dessa forma, não prejudiquem a sociedade, mostra-nos que vale tudo (e isso é um valor, «valer tudo»), sem pudor, para conseguir determinados objectivos, ainda que esses objectivos sejam socialmente aceitáveis e até recomendáveis. Mas precisamente por serem recomendáveis, o que se esperaria era que os jovens, os que pudessem, alterassem a sua conduta, e não que a sociedade que reclama do seu comportamento, como dever moral, comprasse a mudança desse mesmo comportamento. E o que é, aparentemente, paradoxal é que a sociedade utilize outro valor, o mais estimado de todos, o mais cobiçado, adorado, aquele que é motivo de desvio comportamental precisamente por parte de muitos e também dos jovens, o dinheiro, para obter o bom comportamento!
Naturalmente que é suposto que, a suportar tal iniciativa, exista um estudo, um relatório que prove que a relação custo-benefício é atingida com este «investimento», porque, senão, esta nem seria uma ideia para ser anunciada nos jornais. É que outro valor próprio dos tempos que vivemos, é o de que qualquer dinheiro público deve ser rentabilizado ao máximo, de preferência com lucro (ouro valor de que as pessoas tinham receio, ou vergonha, mas que agora volta a ser um valor pujante...), e que, qualquer desempenho que extravase a relação óptima de inputs-outputs, deve ser eliminada. Sejam esquadras da polícia, escolas, ou mesmo maternidades.
Não há valores? Há, sim senhor, mas novos, e velhos tornados novos e, ainda, novos que se tornaram velhos. Valores pós-modernos…