A compreensão segundo Freitas do Amaral
O sr. Ministro Freitas do Amaral, levou a sério, na A. R., a interpelação do CDS , julgando que para defender-se bastaria dizer mais do mesmo que já houvera dito. Saiu-lhe que as manifestações muçulmanas de protesto, dizem, contra as caricaturas de Maomé, que passavam, também, pela destruição de embaixadas e outros edifícios oficiais de países ocidentais, seriam «uma reacção condenável, mas compreensível, face às ofensas enormes feitas à comunidade islâmica por um jornal da extrema-direita dinamarquesa».
A «compreensão» não deveria obnubilar a «condenação», mas, no contexto do seu raciocínio, ao acrescentar uma pseudo justificação para a violência dos muçulmanos radicais, as «ofensas enormes feitas à comunidade islâmica», Freitas do Amaral mostra que, primeiro que tudo, quer atenuar e diluir a crítica à violência e fazer sobressair, em contrapartida, a «ofensa» para melhor «compreendê-la», o que, é o mesmo que justificá-la. O carácter «compreensível» da violência radical é a sua propriedade justificativa. É fácil deixar suposto, de forma implícita, que os verdadeiros culpados de tudo o que aconteceu não são senão alguns jornalistas e a própria liberdade de expressão. Calem-se uns, restrinja-se outra e estavam criadas as condições para que a violência dos radicais muçulmanos já não existisse.
Não existiria? Mas negar a existência da violência muçulmana, por si mesma (tal como a violência ocidental), seria negar a violência de Nova Iorque, de Londres, de Madrid, etc, que eclodiu sem que houvesse um pretexto imediato para a sua manifestação. Quer dizer que a suposição de que a violência dos fanáticos islâmicos seria apenas um efeito e nunca uma causa, leva-nos a concluir que, sendo assim, respondendo a uma provocação – qualquer que ela seja – a violência está justificada e é perfeitamente «compreensível». O que é uma mistificação grosseira do sr. ministro Freitas do Amaral. O desígnio da paz não pode esconder o estado de quase guerra, mesmo que sob a forma de violência «compreensível».
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