24 março 2006

Direitos humanos segundo os EUA

O secretário de Estado adjunto dos direitos humanos da Administração norte-americana, Barry Lowenkrau, durante a conferência de imprensa para divulgar o relatório sobre a questão dos direitos humanos no ano de 2005, argumentou que a tortura associada a Abu Graib, ou Guantánamo não o «impede de levantar as questões da Birmânia» e que «isso» não o impedia de «evocar problemas na Internet na China nem os problemas das restrições impostas às ONG na Rússia». De facto, só uma mente pérfida é que julgaria que uma coisa deveria impedir a outra, até porque toda a gente sabe que a sobranceria imperial não é de hoje e que, portanto, já deveria estar habituada, nem que, tão-pouco, o que se denuncia nos outros não tem de ser necessariamente denunciado dentro de casa, pois, se assim fosse, com que credibilidade o discurso norte-americano sobre os direitos humanos apareceria à opinião pública mundial?
Estamos a ver o que seria a sra. Rice apresentar este tipo de relatório e anunciar que a China controla e censura a internet e que os EUA controlam e vigiam todo o correio electrónico do mundo… Que na China há «abuso físico que resulta na morte de detidos, tortura para obter confissões, sistema judicial controlado pelo Governo, prisões políticas, monitorização dos e-mails» (Público, 9/03/06), mas que os EUA têm Abu Graib e Guantánamo, políticas selectivas de tortura de prisioneiros de guerra, e de outros que nem são prisioneiros de guerra nem deixam de ser, escutas telefónicas de milhares de americanos ao abrigo do Patriot Act e de que ninguém sabia de nada, nomeação dos juízes do Supremo Tribunal pelo Governo, etc.
Talvez que o discurso de verdade sobre si próprio tornasse o relatório norte-americano sobre os outros países, mais aceitável, sem tantos anticorpos e com outros resultados. Mas verdade e política serão cara e coroa da mesma moeda?