01 abril 2006

Alegre, O Herético

De vez em quando, Alegre exprime o seu nacionalismo poético e transporta-o com o maior dos à vontades para a política e, portanto, se necessário, para as maternidades. Alegre alega, a propósito do encerramento das maternidades, que "os espanhóis jamais permitiram que os seus filhos viessem nascer do outro lado da sua fronteira" e que os «espanhóis gastariam o dinheiro que fosse preciso para que os seus filhos não nascessem em Portugal". Alegre terá dito, ainda: "Não me resigno a que isto deixe de ser um país, não abdico de os portugueses quererem ter os seus filhos em Portugal."
O «amor da pátria» parece, assim, justificar tanto os proteccionismos económicos recentes, como os luxos das maternidades que não fechariam à espera que pelo menos mais um filho da pátria não deixe de nascer no seu solo, em vez de ir nascer para o estrangeiro, ainda por cima, em terras espanholas.
O problema do discurso da pátria de Manuel Alegre é o de exacerbar o recôndito da alma, o apelo da genética lusa, do pedaço de terra dos avós, do cantinho dos verdadeiros portugueses que amam a terra-mãe e têm a correr nas veias o sangue dos antepassados. É que um discurso assim pouco tem de diferente do discurso nacionalista mais puro e duro. Tem é outra retórica, o que vai dar ao mesmo. E que não tem nada de herético.
Mas compreende-se que ele tenha de se enredar nesta teia por, estando dentro, necessitar, para dar sentido ao seu MIC, de parecer que está fora, em oposição extra-parlamentar, ao governo do seu partido. É ginástica política e pessoal a mais, e a heresia de Alegre não é senão um desvio das suas prioridades relativamente às prioridades do governo.