25 abril 2006

O 25 de Abril na Madeira

Hoje, mais uma vez o 25 de Abril não será comemorado oficialmente na Região Autónoma da Madeira. O omnipotente governador, Alberto João, para quem comemorar esta data a 24 ou a 26 de Abril é a mesma coisa, desde que não seja a 25, decretou feriado regional para ontem, depois de ter sido desafiado pela oposição, quando o PSD-M anunciou que não iria haver sessão solene comemorativa na Assembleia Regional, a comemorar o «24 de Abril». O governante, a seu jeito, aceitou o repto e acrescentou ao feriado nacional do «25 A Abril», mais um feriado, agora regional, o do «24 de Abril».
Por sua vez, os partidos de esquerda, PS, PCP e BE, uniram-se com o único propósito de juntarem esforços na comemoração do 25 de Abril, à revelia da indiferença oficial. Aquilo que em 30 anos de democracia nunca tinha tido lugar na Madeira, foi possível graças à insensatez de Alberto João, tornando possível a unidade pontual dos partidos de esquerda à volta do 25 de Abril. Sobretudo, no que respeita ao PS esta «unidade», ainda que pontual, temporária e bem circunscrita em ideias e propósitos, é de uma abertura absolutamente inusitada, colidindo com o seu passado na Madeira em que a orientação anti-PCP e anti-UDP, importada do continente, fez história e fez linha política de forma determinante ao longo dos anos.
De qualquer forma, continua salvaguardada a independência de cada uma das formações. Mais: se o acordo é para a comemoração do 25 de Abril, as próximas eleições regionais, disputadas já com novas regras, a proporcionalidade de Hondt, serão o próximo combate não apenas contra o PSD dominante, mas também das forças de esquerda entre si, cada uma a disputar a representatividade da esquerda madeirense e a posição maioritária relativa entre as diversas forças de esquerda. O que significa que a unidade de hoje, 25 de Abril de 2006, é frágil. Mas poderia ser de outro modo quando a «unidade», por um lado, não tem história, e, por outro, é feita propositadamente para atender a uma circunstância meramente temporal?
Uma coisa é certa. Seria bom que nos próximos anos esta unidade da esquerda madeirense já não precisasse de se fazer nesta data: era o sinal de que o 25 de Abril tinha passado a ser comemorado com a dignidade que merece. Sobretudo, por parte daqueles que mais beneficiaram com o 25 de Abril. Sobretudo, por parte daqueles que, estando no poder, afirmam que a oposição nunca compreendeu a conquista da autonomia, e se esquecem que essa autonomia tão propalada como uma conquista sua, só foi possível com o 25 de Abril que não comemoram…
Também por isso é que a questão política da liberdade é, ainda e infelizmente, a principal questão da democracia na Madeira