Não gostar de Portugal
A ideia de que há portugueses (seriam 85%) que não se interessam por Portugal parece incomodar… alguns portugueses. «Como é que é possível?!», exclama-se. Primeiro, ser português e não gostar de Portugal é tão natural como viver numa casa não porque se gosta dela, mas porque foi a casa possível por entre a ordem de múltiplas circunstâncias que ditaram que essa fosse a casa comprada, arrendada, ou herdada. Segundo, ser português e não gostar de Portugal, hoje, pode ser um gosto genuinamente cosmopolita, pois, não sendo Portugal o país ideal para gostar, outro teria de ser, e, assim, esta disponibilidade para contrastar Portugal e outros países e concluir que Portugal não serve, é, ao mesmo tempo, sinal de abertura para o exterior, para além de Portugal, mesmo que seja por causa de Portugal. Finalmente, Portugal, hoje, é a periferia da Europa, um subordinado obediente de Bruxelas, a província de Bruxelas e de Estrasburgo, o que é uma boa oportunidade para que os 85% dos portugueses se sintam mais europeus que portugueses. Mais uma vez, é uma questão de vistas largas.
Quando chegar o próximo mundial de futebol, logo se verá como é que esses 85% deixaram de gostar de Portugal.
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