11 maio 2006

O Estado de Israel é racista?

O novo primeiro ministro israelita, Ehud Olmert, está determinado no desenho das novas fronteiras para Israel. Para ganhar por um lado, tem de ceder noutro. Então, argumenta Olmert: «Mas mesmo se os olhos dos judeus estão cheios de lágrimas, e o seu coração está despedaçado, temos de salvaguardar o princípio - temos de manter uma maioria judaica sólida e estável no nosso Estado.» (Público, 5/05) Este choro é o lamento pelos colonatos que os israelitas deixarão para trás e pelo sonho perdido de conseguir «salvaguardar todos os territórios da Terra de Israel», chegado que é o «dia em que é necessário desistir de partes da nossa terra». Portanto, o que ele deseja é «uma maioria sólida», impenetrável à mestiçagem, que não possa colocar em dúvida essa «maioria» clara de judeus puros, pois, em última análise, se assim não fosse, criava-se «uma mistura de populações [árabes e judeus] impossível de separar», e que deixaria em «perigo o Estado de Israel como Estado judaico.» Não só a mestiçagem traria os inconvenientes da mistura, como ainda, dado a taxa de natalidade da população palestiniana, onde uns e outros estivesse misturados, sabe-se de quem seria a maioria e, nesta visão apocalíptica, do que seria do Estado judaico. Claro que a população palestiniana não é mencionada porque isso seria reconhecer uma identidade ao «outro» feita a partir do «eu», quer dizer, fundamentar no «outro» o próprio «eu». Eliminando os «palestinianos» do discurso, Olmert afirma o Estado de Israel como se fosse por vontade própria e autónoma, como se os palestinianos não existissem, ou a existirem, não contassem para nada do que é a vontade judaica. Que judeus e palestinianos possam ansiar o mesmo que uns e outros, isso não conta nem parece interessar. Na guerra ou na paz, a discriminação começa sempre pela separação.
Percebe-se porque é que um judeu «genuíno» como George Steiner não queira ter nada a ver com a monstruosidade deste Estado de Israel.