14 junho 2006

Jerónimo de Sousa e Cavaco Silva motivam os portugueses?

Jerónimo de Sousa, ainda há poucos dias, lamentava que as pessoas estivessem à espera do PCP para lutar pelos seus direitos. Dizia ele que se «as pessoas» se unirem, então haveria força para «mudar de rumo», mas, sem derrubar o governo, isso ele não quer, por enquanto. Para já, trata-se de «lembrar que existe democracia participativa» e de exortar a que as «populações tomem nas suas mãos a defesa dos seus direitos».
Também Cavaco Silva gosta de exortações aos portugueses. No 10 de Junho, apelou aos portugueses para que «não se resignem e que não se deixem vencer pelo desânimo ou pelo cepticismo».
Um reclama um levantamento «popular», uma manifestação de desagravo perante o «rumo» do actual governo. Reclama às «populações» que não fiquem de braços caídos, à espera do PCP, vendo passivamente o que o «rumo governativo» vai fazendo. Outro, à sua maneira, apela ao contributo dos portugueses para que não fiquem à espera dele para resolver os seus problemas, mas que são os próprios portugueses que devem fazer alguma coisa por Portugal. Também apela a que os «portugueses» não fiquem de braços caídos.
De um lado, um partido comunista que fala de «pessoas» e de «populações» como a sua base social de apoio, e que exorta a que se manifestem. De outro, um presidente que no dia de Portugal, fala de «portugueses» para os incentivar a «lutarem» por Portugal. Cada um, no fundo, tendo em comum o objectivo de afastar o sentimento da resignação. Cada um mexendo em águas que não são as suas, «as pessoas» para Jerónimo, e a «vontade» dos portugueses para Cavaco. Cada um com os seus ritos mais ou menos bem executados, mas radicalmente desfasados da sua própria natureza. Cada um a fingir à sua maneira.