01 junho 2006

Quem não deve avaliar os srs. professores?

Diz-se que o Ministério da Educação ao propor que os srs. professores sejam avaliados também pelos pais dos seus alunos, comprou uma «tempestade» com os professores . Esta versão, quase sanguinolenta, é a dos sindicatos dos professores. Do outro lado, em representação da Confederação Nacional das Associação de Pais, Manuel Monteiro proclamou que entre estes existem «engenheiros», «advogados», «professores», e até, com certeza, médicos, arquitectos, etc., que credibilizam a paternidade de qualquer avaliação sobre os srs. professores. Além do mais, ao serem referidos apenas aqueles profissionais, deduz-se naturalmente que nesta Associação há uma selecção dos seus membros, de acordo com as profissões, pelo que não entrando nela nem pedreiros, nem mulheres-a-dias, nem comerciantes, nem empregados de balcão, nem camionistas, etc., etc., Manuel Monteiro parece querer oferecer uma garantia suplementar da idoneidade dos seus membros e da sua preparação para tão relevante tarefa como é a de avaliar professores. Para esta Associação, não temos uma «tempestade», temos um «banquete», e os seus membros estão ávidos e egoisticamente prontos para a orgia.
No entanto, a qualquer profissão diferente daquelas acima mencionadas, deve ser concedido igual direito de, democraticamente, exercer essa participação na vida escolar do seu educando, na vida profissional dos professores do seu educando e, em geral, na vida da escola do seu educando. Tal como não deve ser restringido o acesso a tão grata tarefa a quem de direito se propunha contribuir com a sua douta opinião para uma melhor avaliação dos senhores professores. A começar obviamente pelas forças vivas da comunidade em que a escola se insere, e que cada vez mais fazem ouvir a sua voz junto da escola, ou porque participam na Assembleia de Escola, ou porque têm protocolos de cooperação de acordo com diferente níveis de interesse mútuo. Assim, as empresas que subsidiam escolas e cursos e se interessam em receber os jovens formados, devem, naturalmente, exercer o seu direito de avaliar os professores dessas escolas. A Câmara Municipal, na pessoa do seu Presidente ou de outrem a quem delegue essas funções, o mesmo para a Junta de Freguesia, quer pela natureza do cargo, quer pela influência que detêm em tudo o que respeita ao funcionamento do parque escolar, devem ser chamadas também a pronunciar-se sobre a capacidade dos srs. professores. Tal como também devem exercer essa função, que aliás as prestigia em retorno, instituições como os bombeiros da localidade, pela ligação à escola devido à prestação de múltiplos serviços, bem como à prevenção de acidentes naturais, e ainda os srs. polícias que no âmbito do programa da «Escola Segura» tanto trabalho têm em manter a segurança à entrada e saída das escolas. O princípio geral, em todas as situações, é o de, se há ligação à escola, então há o direito e o consequente dever de contribuir para que a avaliação dos srs. professores seja a mais democrática, transparente e útil possível, e que satisfaça os requisitos do Ministério da Educação.
Desta maneira, há que prevenir que outros interessados, dentro da própria escola, não só não sejam esquecidos como tenham um papel tão activo como os outros beneficiários anteriormente mencionados. Há então que realçar o papel abnegado do Pessoal Auxiliar de Educação, vulgo «contínuas» e «contínuos», que em contacto permanente com os srs. professores, pelo menos à entrada e saída das salas de aula, bem estão capacitados para se pronunciarem sobre a real valia do professorado. Igual capacidade detém outro Pessoal escolar, o Administrativo, pois, tratando dos papéis dos srs. professores e dos estudantes, directamente ou através destes, consegue ter uma panorâmica privilegiada sobre o modo como os srs. professores avaliam os seus alunos, o que lhe dá outra visão para, por sua vez, avaliarem os srs. professores. Escusado será acrescentar que nas escolas em que ao lado de carpinteiros se juntem porteiros, jardineiros, e eventualmente outros, porque estes não são de profissão inferior àquelas que Manuel Monteiro reclama como sendo capazes para avaliarem professores, deverão, todos sem excepção, terem o direito de receberem no início de cada ano lectivo o respectivo formulário que os habilitará a avaliarem os srs. professores.
Finalmente, não é lícito deixar de nomear, de entre aqueles que surgem com natural aptidão, ou a reclamam acintosamente, para julgar e avaliar os srs. professores, os srs. jornalistas, os quais conhecem toda a história acerca dos srs. professores, das suas virtudes e dos seus defeitos. Em especial, os directores dos «jornais de referência».