13 julho 2006

1.Jihad sem inocentes; 2.publicidade sem publicidade

1. O grupo terrorista Laskar-E-Toiba (Exército dos Puros) que actua a partir do Paquistão, negou os atentados de Bombaim. Apesar de ter um cadastro terrível no que respeita a terror, um porta-voz do grupo considerou os ataques bombistas em Bombaim como «massacres» que «são desumanos». Alegou ainda que o «Islão não permite matar inocentes». Para um grupo que foi responsabilizado por um ataque à bomba no mercado de Nova Deli com um resultado de 60 pessoas mortas, não está mal. Imagine-se se se dispõem a matar inocentes… No entanto, a contradição é evidente, pois a jihad faz-se contra os infiéis, nos quais se incluem os inocentes, e não contra os inocentes propriamente ditos, o que equivale a dizer que, para o terrorismo fundamentalista, só há inocentes reais no inferno. Aliás, a propaganda da Al-qaeda vincava que se os governos são infiéis ou servem os infiéis (Arábia Saudita, EUA, Iraque), então, os cidadãos que apoiam estes governos são tão culpados como os governos, logo, devem ser castigados também. É uma lógica primária que democratiza a culpa e o castigo. E nessa generalização cabem todos lá dentro. Os inocentes também.
2. M:ª João Avillez fez publicidade sem ter suspendido a sua actividade de jornalista. José Miguel Júdice, advogado da jornalista, acha que as coisas não são assim tão claras: «Que há publicidade [nas duas páginas], não há dúvidas, agora a crónica que a jornalista escreveu é que não é publicidade». O raciocínio de Júdice é subtilíssimo: o texto publicitário que Avillez escreveu é um texto como qualquer outro e pelo facto de se encontrar enquadrado num ambiente publicitário, isso não significa que o texto seja publicidade. Não há intenção, não há crime, diz Júdice, kantiano ferrenho. Mas, então, o texto é uma presença metafísica que só por acaso os mal intencionados - estes sim, com intenção - detectaram, inculpando Avillez de algo que não lhe passava pelo espírito. Júdice ainda objectará, quando disserem que, quer se queira, quer não, o texto foi usado publicitariamente, que a mensagem é o meio, e esse meio é independente do conteúdo objectivo e da intenção subjectiva, pelo que o meio é também a mensagem: um banco faz a publicidade e a publicidade um banco. Onde é que entra aqui a carteira (profissional) de Avillez?