03 dezembro 2006

Adoradores de homens

Sempre houve e sempre haverá quem, sem nenhuma razão aparente, siga os passos dos outros nos caminhos abertos por estes. Múltiplas razões existem para que isso aconteça, às vezes inimagináveis e por isso mesmo difíceis de identificar, mas podemos, pelo contrário, identificar uma boa razão pela qual não se deve seguir as palavras de outro homem, pelo menos à primeira: o juízo crítico, a necessidade de pensar pela própria cabeça. É esta característica que emancipa os homens uns dos outros e os torna simultaneamente dignos de partilharem ideias, discutindo-as. A discussão crítica, essa herança divina que os gregos deixaram, é que permite que em vez de bajulação haja desconfiança intelectual, e que em vez de crença haja a perplexidade que alimenta as perguntas. Nada disto existe se em vez dessa criteriosa atitude for adoptada aquela que se sente abençoada, protegida e quiçá iluminada por outra natureza diferente da humana, como se tudo se resumisse em abrir a boca de espanto e em ficar cego perante as palavras de outro homem, mesmo que esse homem se chame agora Bento XVI. Isto, a adoração de homens, que para uns pode ser execrável é, no entanto, para outros uma prática e uma atitude perante o poder secular e temporal. Os mobilizadores de massas têm sempre os seus adoradores convictos, sejam eles políticos ou jornalistas.