06 novembro 2006

As palmas pela condenação de Saddam Hussein

A morte e a vida de Saddam desde que foi capturado e, em vez de morto, humilhado pela sujidade, desgrenhado, de dentes analisados em frente das câmaras de televisão, é uma história de moeda ao ar, de vencedores e vencidos. Politicamente, um julgamento justo de um regime e de um ditador, realizado com sentido de justiça e com todas as prerrogativas que qualquer arguido deste género pode ter em qualquer parte do mundo, um julgamento assim, seria uma forma de um povo ajustar contas com o passado e, simultaneamente, preparar o futuro. Nas condições em que se processou todo o julgamento, nas condições em que se processou toda a comédia do julgamento de Saddam, a sentença decretada e as reacções que se lhe seguiram, de Bush a José Manuel Fernandes, passando por Durão Barroso até ao Irão, são a amplificação em muitos decibéis do coro dos espectadores que decidiram participar na peça como se ela fosse a sua comédia. O alarido mediático da sentença e o cortina contínua de declarações a propósito, provocam o ruído mediático de contágio e ofuscam qualquer distanciamento, e preparam ainda o golpe seguinte, o do espectáculo que se seguirá com a continuação do julgamento pelos outros crimes de Saddam Hussein. O regozijo de Bush pela «jovem democracia» iraquiana só é comparável com o novo 25 de Abril que José Manuel Fernandes vê na última produção da «democracia» implantada no Iraque e que lhe permite ressuscitar a sua voz à volta dos assuntos deste país, tão calada que estava por de lá só sair miséria. Comparáveis ao coro destas vozes, incluindo a de Blair, que fala em processo limpo, só mesmo a saudação iraniana do regime de Ahmadinejad congratulando-se com a condenação.