Sobre Os Grandes Portugueses
Uma pequena polémica marcou, com o efeito publicitário desejado, o anúncio do programa Os Grandes Portugueses. De um momento para outro, parecia que a grande questão nacional era se Salazar deveria constar ou não da lista das personalidades portuguesas potencialmente candidatas ao título de Grande Português. O mais cómico da situação foi não se ter percebido que o que estava em causa era um programa de entretenimento e que a participação dos portugueses é a estratégia adequada à garantia de uma grande audiência e que faz todo o sentido para este efeito que o público «sinta» a ausência de um eventual candidato a grande português, provocando alarido a este propósito. Não há - nem tinha de haver, dados os objectivos do programa - critérios suficientemente abalizados para escolher e eleger os grandes portugueses, a não ser o da participação popular, o do voto dos telespectadores que elegerá «num debate aceso, animado e divertido» o melhor de entre 10 escolhidos para a segunda fase. Assim, não se pode querer recolher ciência certa quando o que este programa, nos seus moldes, apenas pode devolver é a poeira que recolhe da participação popular.
O problema não é portanto Salazar ou qualquer outro do mesmo gabarito, constar ou não da lista da RTP1, mas o da opinião expressa pelo «voto democrático». Contraposto a este, seria interessante que uma equipa de historiadores, ou de especialistas de diferentes áreas, se pronunciasse, através de critérios pertinentes, objectivos e rigorosos, sobre quem de entre as figuras públicas portuguesas mereceria esse título de Grandes Portugueses. De um lado a voz do povo, de outro, a voz de um grupo de especialistas. Deveria ser interessante, sobretudo se este comité conseguisse trabalhar e levar até ao fim, apesar das divergências, o seu trabalho.
Sem nunca esquecer que Os Grandes Portugueses está feito para parecer um grande programa para grandes escolhas.
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