02 outubro 2006

Sindicato contra trabalhadores ou trabalhadores contra sindicatos?

A União dos Sindicatos de Viseu está contra os trabalhadores da fábrica Johnson Controls de Nelas porque, apesar do anunciado despedimento, os trabalhadores:
1) não estão «indignados» pelo próximo encerramento da fábrica;
2) não se recusam a fazer horas extraordinárias durante o fim de semana;
3) ao receberem por esse trabalho extraordinário 45 euros ao fim de semana, os trabalhadores vendem a sua consciência por dinheiro e portam-se como se fossem ceguinhos;
4) consideram o fecho da fábrica como inevitável e a decisão irreversível
5) acreditam que não há outra hipótese a não ser o encerramento da fábrica
Para os Sindicatos, a atitude dos trabalhadores é justificada pelas pressões patronais. Ora, o que torna toda a situação caricata é precisamente a inversão que ela origina. Parece que, neste momento, anunciada a decisão de encerramento da fábrica, os trabalhadores, em vez de se oporem à administração, pelo contrário cooperam, aceitando trabalho extraordinário e negociando as contrapartidas que irão receber pelo fecho da fábrica. O sindicalista (Carlos João) que lamenta a falta de consciência «de classe» destes trabalhadores não acredita, ao mesmo tempo, que eles não estejam a ser «enganados» e «levados» pelos patrões. Ele acredita sinceramente que só pelas «pressões», e provavelmente pela intimidação, é que os trabalhadores se sujeitam, sem protestar e sem lutar, às condições impostas pelos patrões. O que pressupõe que não havendo «pressões», os trabalhadores já iriam à luta, a verdade sindical vinha ao de cima e a consciência operária ainda ponha os patrões a passearem mais cedo para fora de Portugal…
Para além de cumprirem com o seu papel, passará alguma vez na cabeça dos sindicalistas que: a) os trabalhadores, na fase actual, já não querem libertar-se do sistema que os aprisiona como trabalhadores obrigados a venderem a sua força de trabalho no mercado, quando até são razoavelmente bem pagos para «irem vivendo»?; 2 que a «consciência de classe» é uma consciência desapropriada aos tempos que correm, mais dado a outras consciências, como a de adepto do clube, e a outras preocupações, como a prestação da casa para pagar ao banco?; 3 que, finalmente, o dinheiro fresco de um lado e a consciência de outro faz pender a balança inevitavelmente para o daquele e que não há camisola alguma que altere esta escolha?