13 agosto 2006

Mundo louco, Memória, U2 e lucro

O mundo não está nem mais louco nem menos louco. Apenas mais perigoso, à escala global e à pequena escala. Mais livre e, simultaneamente, mais opressivo. Contraditoriamente livre. Claro que tanto perigo e ao mesmo tempo tanta liberdade e tanta menor liberdade causam calafrios. E eventualmente, desespero. Daí à «loucura» do mundo vai um passo.

Há quem vocifere contra a Memória do Fascismo e se há quem o faça à base de argumentos, há quem o faça há base do discurso cínico. Propor que para um hipotético Museu da Memória exista um projecto com pés e cabeça (com historiadores, antropólogos, etc., etc.), é uma boa ideia; juntar-lhe «gestores financeiros que saibam traduzir em lucro a boa vontade humanitária», para evitar despesas públicas, é colocar no projecto um objectivo que, por natureza, lhe é alheio, pois, esse, o do lucro, é um objectivo que chocantemente colidiria com os propósitos mais dignos que um projecto desta natureza pode ter. Que desses objectivos conste o de o projecto ser auto sustentável e depender o mínimo possível de qualquer tipo de subsídio, particularmente público, ainda se compreende. Que se transforme o acessório no principal, é que desvirtua todo o projecto. Sobretudo se for encarado com o desprezo, ironia e comicidade com que Rui Catalão o faz em o «O karma do fascismo». Karma… astral… o que é que anda por aí?

Se os U2 saem da Irlanda para irem para a Holanda por causa dos direitos de autor não pagarem impostos, imagine-se o que não seria se Bono e amigos ficassem à frente de qualquer Museu da Memória. O que não venderiam para obter lucro, de preferência livre de imposto… Por outro lado, é de admirar que Alberto João não tenha convidado esta banda a emigrar para o paraíso fiscal da Madeira.