15 setembro 2006

Ser papista na actualidade II (posts em atraso)

Ainda no editorial de JMF, “Investigar ou culpar”, descobre-se que convém «investigar», mas não «culpar». Quer dizer, enfim, apontar aqui e ali algum «excesso», algum «erro» de boa vontade, uma «escorregadela» na legalidade, um «abuso» nos direitos humanos, vá lá que não vá. Agora, pôr-se a «acusar» o Império pela existência de «centros de detenção», de voos «ilegais», de «sequestros» da CIA em países europeus, de tudo o mais que não lembra ao diabo, isso já é fazer o jogo do Islão, colocar-se ao lado dos fundamentalistas religiosos e dos terroristas que usam a liberdade do Ocidente para melhor a destruírem, blablablá… Um papismo deste quilate está naturalmente exposto às mais duras contradições, particularmente, à de o seu Papa vir publicamente desmenti-lo. Foi o que fez Bush, reconhecendo as «prisões secretas» da CIA, portanto, os «transportes secretos» da CIA, e isentando-se do mandato da prática de tortura, como se fosse necessário que, para a tortura se tornar «tortura secreta», o imperador viesse justificar-se lavando as mãos. Depois, tal maniqueísmo e proselitismo intelectual sofrem duros raspanetes inter pares, como este (Editorial de João Morgado Fernandes, “A luta contra o terrorismo”, DN, 8/09/06): «a crítica aos comportamentos nefastos dos EU, na medida em que estes põem em causa os fundamentos do estado de direito, não significa, necessariamente, qualquer desculpabilização ou secundarização desse mal muito maior que é o terrorismo.» Antes, João Morgado Fernandes esclarecera: «Paradoxalmente, alguns intelectuais, com evidente má-fé, consideram que este tipo de críticas aos Estados Unidos debilita o campo da democracia e tende a colocá-los ao mesmo nível dos fundamentalismos religiosos.»