19 setembro 2006

"Liberty fries"

O sr. congressista Bob Ney, que tinha proposto - na altura do impasse no Conselho de Segurança da ONU e em que a França, aos olhos dos EUA aparecia como o maior obstáculo à sua decisão de invadir o Iraque -, mudar o nome das batatas fritas de french fries para liberty fries, o que daria algo como «batatas fritas da liberdade» em vez de simplesmente «batatas fritas, estava acusado de corrupto no âmbito do processo do lobby de Jack Abramoff. Agora, assinou a sua confissão, reconheceu os seus «pecados» e deixou cair a máscara de político impoluto de quem se esperaria apenas a luta pelo bem dos EUA. Raramente as atitudes radicais e simultaneamente folclóricas não têm por detrás pés de barro. Aquele entusiasmo repentino, a proposta surpreendente, o ir além mais do que era suposto ser razoável, consubstanciam não apenas a gratuitidade e vacuidade do gesto, como definem o carácter de quem toma tal atitude «revolucionária». Bob Ney não era apenas um sabujo de Bush. Era também um político corrupto. Talvez por isso fosse também necessário ser mais Bush que o próprio Bush, e se um queria à viva força invadir o Iraque, outro queria eliminar qualquer vestígio francês em terras do tio Sam. Há gestos inconsequentes que valem pela poeira.