11 outubro 2006

Cavaco e a prostituição

O presidente Cavaco Silva anda a trabalhar pela inclusão, o que é louvável. Que no âmbito de tão nobre causa julgue dever pronunciar-se, pessoalmente ou por interposto assessor, sobre a prostituição, porventura ainda «chocado» com o que ouviu, talvez já seja excessivo e extravase o que lhe é pedido nas circunstâncias. De facto, ao dizer que não se «pode legalizar algo que é um atentado contra os direitos humanos» (terá dito de viva voz ou pela voz de outrem), Cavaco deixa sair o seu estado de alma moralista, julgando que por ser presidente terá direito a considerar o que é «legal» ou não, e a ajuizar sobre o que atenta ou não «contra os direitos humanos». É estranho, por outro lado, que nenhum dos assessores que o acompanha não o tenha aconselhado ou avisado que o tema da prostituição é um assunto escorregadio e que é perigoso deixar escapar o que lhe vem à cabeça, sem mais nem menos. Não que não tenha o direito de pensar com a sua própria cabeça. Mas não tem o direito de pensar pela cabeça de cada um dos portugueses exarando sentenças que ilegalizam a prostituição e que a colocam ao lado dos «atentados contra os direitos humanos».
Ficamos a saber que esta douta cabeça presidencial considera que a prostituição legalizada, por exemplo, na Holanda, que é uma actividade capitalista, funcionando de acordo com todas as regras do mercado, incluindo aquela bem liberal de que tudo se vende e tudo se compra - haja mercado! - é, para sua excelência, um «atentado contra os direitos humanos». Haja fé!