19 novembro 2006

Servir ou servir-se?

Os Jaime Ramos, a família, têm uma empresa, o que é normal. Jaime Ramos, pai, e Jaime Filipe Ramos, filho, são ambos deputados, o que já não é tão normal e começa a parecer que algo se passa na Madeira como numa república das bananas. Quando é essa a empresa que, por «concurso público», ganha a campanha de promoção turística da Madeira para os próximos dois anos, então a questão muda completamente de figura e de estranho é necessário passar para o descaramento. De facto, quando é público que a Madeira atravessa uma época de suspeição nas suas contas, o governo regional entregar a promoção turística da Madeira à empresa do PSD, quando estão envolvidas verbas de 5,5 milhões de euros entre 2006 e 2009, é criar uma situação que permite as habituais corruptelas jornalísticas de «negócios pouco transparentes», «promiscuidade entre poder político e actividade lucrativa privada», «os mesmos a dividirem o saque», etc, etc.
Acresce ainda que a prova de que a independência não serve a Jaime Ramos é a capacidade que tem de sorver os dinheiros públicos através da empresa e do que for que lhe faça a vez. Mais grave do que isso tudo é a demonstração cabal que a família faz de que está na política para servir-se e não para servir. Não é por acaso que o regime de incompatibilidades em vigor no continente e nos Açores foi recusado na Madeira. É que esse regime poria em causa o sistema de trocas de interesses e de privilégios que tem vigorado implicitamente desde os primórdios da democracia na Madeira.