09 abril 2007

«Habituem-se!»

Desde o episódio dos fogos do Verão do ano passado, em que o governo de Sócrates foi acusado de controlar o noticiário da RTP, ao mais recente projecto sobre a comunicação social, tem sido crescente a propaganda dos meios da oposição e dos jornalistas à censura que, de uma forma ou de outra, o governo ou praticaria já, ou se prepararia para pôr em prática. Há quem diga mesmo que, se o governo tem uma «política de informação», então também tem uma «política para controlar a informação», como se uma coisa obrigasse a outra, ou dito de outro modo, como se em qualquer caso, o simples facto de o governo «mexer» com a informação equivalesse a controlá-la.
O problema é outro, o de ser legítimo ou não ao governo controlar, como tem feito até agora, o fluxo de informação respeitante ao seu próprio governo, o que naturalmente se prende com a tal «censura» que o governo já praticaria. Neste aspecto, a situação ficou clara para todos, políticos e jornalistas, quando António Vitorino exclamou, em devido tempo, «Habituem-se!» Desde logo, o que António Vitorino quis salientar era o facto de o regabofe informativo anterior, vindo do tempo dos governos de Guterres, de Barroso e sobretudo de Santana, ter acabado. De facto, tinha-se instalado a ideia de que o simples espirro de um ministro devia originar milhentas perguntas e especulações sobre as suas origens, contextos e consequências, num rodopio cacofónico interminável, e exigia-se, ainda, que tal ministro mostrasse disponibilidade para participar nesta estridência jornalística. Tempos áureos!
Ora, o que este governo fez foi pôr cobro a essa situação de «orgia jornalística» ao colocar-se na posição de quem se resguarda de, a todo o instante e em qualquer lugar, ter de prestar contas à comunicação social, como se não houvesse momentos e locais próprios para esse efeito. Ao fazê-lo, por consequência, o governo «comprou» uma guerra com os srs. jornalistas. Os srs. jornalistas, por sua vez e em retorno, «compraram» ao governo a guerra da «liberdade de expressão». Nada mau, pois, pelo menos enquanto a Independente não derruba Sócrates, sempre têm com que se entreter. Porque a verdade é esta: se este governa procura controlar o fluxo da informação que lhe respeita, não é menos verdade que quem gere toda a informação são os srs. jornalistas, e não é por isso que é dito que os srs. jornalistas controlam a comunicação social e exercem a censura sobre os meios de informação. Depois, os jornalistas têm sempre o dever de procurar descobrir o que o dizem estar o governo a ocultar. Sempre são, ou julgam ser, o 4.º poder…