29 dezembro 2006

Privilégios, porque não?

O discurso oficial alega que deve ser tratado de forma diferente o que é diferente, deitando fora, assim, o socialismo igualitário da «Liberté, Egalité, Fraternité». Mas por outro lado, se se dá mais a uns do que a outros, em função da diferença que se apurou existir ou dever existir, começa-se a privilegiar uns em relação a outros, portanto, a criar novos corpos de privilégios, o que significa que o discurso contra a igualdade de privilégios é contraditório com a promoção de recompensas diferentes para situações diferentes, e é criador, por sua vez, de novas desigualdades, agora assentes em novos critérios que não os antigos. Se antes os privilégios assentavam, por exemplo, na igualitarização dos membros de uma classe profissional e nos benefícios que esta teria em relação a outras classes, uma classe sobre recompensada como seria a dos professores, como exemplo mais específico, passa a ser dividida em duas, as dos professores (normais) e a dos professores titulares, sendo que estes serão melhor recompensados que aqueles, com base no critério pós-moderno de rentabilização da relação input/output, isto é, com base na eficácia do investimento e do resultado desse investimento: quanto mais produtivo mais eficaz e menos desperdício; quanto menos produtivo menos eficaz e mais desperdício. Depois, se uns têm um Fundo de Pensões, outros uma Caixa, outros ADSE, etc, o que realmente incomoda é a diversidade contemplada para resolver, no fundo, o mesmo problema. Ora, cada uma destas estruturas é um privilégio para uns e uma diferença em relação aos outros, e como tal pode ser assacada como mais um privilégio que os outros não têm, e se passa a ser imoral apenas uns o deterem, então é fácil, com a argumentação do fim dos privilégios, acabar com essas estruturas, integrando-as no todo da Segurança Social, da Caixa Geral de Aposentações, no Serviço Nacional de Saúde, igualizando tudo e todos, exactamente o resultado oposto do discurso oficial de que é preciso tratar de forma diferente o que é diferente!