02 maio 2007

Marçalo Grilo e a crítica

Marçalo Grilo está «farto» dos «políticos», «jornalistas» e «opinion makers», para além de estar cansado da maledicência e da crítica malévola» (‘P‘, 2/04). Não é normal um político, ou pelo menos um ex-político, um ex-ministro da Educação, ter destas opiniões sobre a crítica social e política, e, sobretudo, não é normal que esta opinião seja suportada pelas razões que Marçalo Grilo apresenta. Que se considere que a crítica exagera os aspectos negativos em detrimento dos positivos, que só vê uma parte, a má, esquecendo a outra parte, a boa, aceita-se e até se considera normal. Mas Marçalo faz mais do que isso, ele procura perscrutar as razões por que a crítica, portanto, os críticos são assim tão negativos. A primeira razão é a de que esses críticos, «não estando de bem consigo próprios», porque estão assim doentes, desprezam o país e o seu povo. Não «estar bem consigo próprio» equivale não apenas a uma espécie de baixa de auto-estima, a uma espécie de depressão, como ainda a uma espécie de problema de identidade, de falta de reconhecimento de si, e portanto, dos outros, pelo menos uma falta de reconhecimento saudável. Esta análise médica confirma-se quando Marçalo Grilo adianta que estes críticos, «para existirem», zurzem em «tudo e todos», o que em psicanálise equivale a dizer que o crítico é o paciente que só tem consciência de si porque se confronta com o princípio da realidade que o incomoda e não o deixa ser como ele gostaria de ser: debater-se com o mundo é a condição de «existir», o que significa que pôr-se de bem com o mundo equivaleria a começar a morrer… A crítica é condição da existência, como se isso «os [críticos] colocasse na História», terceira razão por que Marçalo não crê que a crítica possa ser genuína: eles querem ficar na História, mas também estão enganados, diz Marçalo, porque «na História só ficarão os que fizeram alguma coisa e isso só será avaliado e valorado daqui por muitos anos talvez mesmo daqui por algumas décadas». Desenganem-se, pois, aqueles críticos que esperariam a glória à saída da porta de casa, sem sequer terem morrido. A História, na versão de Marçalo, é bem mais rigorosa e exigente do que podem pensar os críticos. É óbvio que Marçalo não se vê como crítico dos críticos, nem imagina que a sua ideia de espalhar «Prozac e outros anti depressivos» na água canalizada de distribuição pública é, no mínimo, nos tempos que correm, assassina, talvez terrorista, tudo muito mais do que simplesmente bizarra ou irónica. Para um anticrítico não está nada mal…