Jornalismo de sarjeta e Ministério da Educação (I)
Pela Internet correm as mais duras críticas ao actual governo, à ministra da educação e ao primeiro-ministro, porventura só comparáveis às críticas do governo de Santana Lopes e à sua própria figura. Mas separam estas críticas um tom que é a substância: Santana Lopes era criticado enquanto gozado, era o bobo da festa, a política e um político elevados à mais pura comédia, ele concentrava em si a matéria-prima ideal para qualquer caricaturista, fonte inesgotável de gozo, de piadas, um manancial riquíssimo para o anedotário nacional; Sócrates presta-se também a este anedotário, mas o ponto de partida é diferente e o leque mais variado, pois, não só ele é bombo da festa, mas vários dos seus ministros, de Mário Lino a Maria de Lurdes, passando pelo da economia, Manuel Pinho. A outra diferença é a de que enquanto Santana era gozado, Sócrates e os seus ministros são insultados, e de entre estes, ressalta, na Internet, o que sobre ela, a ministra da educação, corre. Agora, as críticas, as anedotas, as caricaturas, as fotomontagens, os textos, são agressivos, insultuosos, a crítica passou a ser rasca, brejeira, semelhante a qualquer arroto que qualquer grunho desfere de forma selvagem.
Tem sentido, por outro lado, que a crítica à ministra da educação seja proveniente, na sua maioria, de professores e dos seus sindicatos. Compreendem-se as razões. A ministra dobrou os sindicatos dos professores, a ministra fez um estatuto da carreira docente se não contra eles, pelo menos ao lado deles, indiferente às suas reivindicações, desejos e manifestações. Mas nesta cavalgada para tomar de assalto o ministério, escorraçar os professores, manietá-los numa carreira, diminuir-lhes ainda mais o seu estatuto social e transformá-los nuns funcionários públicos simplórios que por acaso têm a missão de educarem, é «natural» que sejam os próprios professores que mais se empertiguem contra a ministra, que mais a critiquem, que mais ponham em causa as suas políticas, que sejam os maiores fautores da crítica radical de um sistema de ensino que julgam ser mau ou péssimo no actual estado das coisas. Agora, não é admissível, de modo algum, que as críticas que os professores fazem, por exemplo, nos textos e fotomontagens que correm na Internet, sejam do mais insultuoso que se possa imaginar, isto é, de uma perspectiva que nada tem a ver com a tal dignidade da profissão que é a de serem professores. Uma coisa é a crítica, outra o insulto. Uma coisa é a crítica justa, correcta, com argumentos, em que se diz que não se concorda com isto e com aquilo, porque causa disto e daquilo, outra coisa é o ataque ad hominem, o puro ataque pessoal visando denegrir a pessoa, já que não se consegue atacar a política. Infelizmente, na Internet correm este último tipo de ataques pessoais.
Mas também há na imprensa escrita quem se dê ao luxo de imitar este tipo de «críticas», mesmo entrando num processo de incoerência, no que respeita à ministra da educação. As linhas que se seguem são tiradas de um texto de alguém (adivinhe-se) com responsabilidades públicas e que sempre apoiou as medidas desta ministra, sobretudo, quando visavam os professores. (Continua.)
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