20 junho 2007

Jornalismo de sarjeta e Ministério da Educação (II)

Primeiro, o contexto: «porque nos tornámos, realmente, num país de bananas onde cada vez menos fazem frente ao candidato a autocrata que manda neste país». Isto é outra versão da vulgar expressão «República das bananas», dita de outro modo, e que costuma ser aplicada ao que se passa, por exemplo, na Madeira. Segundo, a afirmação («Somos governados por uma cambada de vigaristas e o chefe deles todos é um filho da p…») que originou suspensões, inquéritos, etc., tem de ser vista num contexto português, se não, o que se «teria de agir como em Portugal se age contra quem diz o que lhe vai na alma, ao gritar numa bancada, a propósito da mãe de um árbitro (em que país viverá ela, senhores…)». Chegados aqui, estamos ao nível do futebolês (aquele conjunto de ideias, de lógica, comportamentos, atitudes, linguagem, etc., próprias do mundo do futebol), onde como se sabe, e o autor sabe, insultar a «mãe de um árbitro» é a coisa mais banal deste mundo, e se assim é, porque será pecadilho alguém insultar a mãe do primeiro-ministro ao chamar-lhe «filho da p…»?! Razões para não se levar a mal? Responde o autor do texto que gostaria de conhecer «um só português que não tenha dito algo de semelhante nos últimos 30 anos de democracia». Ora, se cada um, em «democJornalismo de sarjeta e Ministério da Educação (II)racia», alguma vez cometeu este pecadilho, porque seria estranho mais um insulto, também em democracia? A democracia, não quererá dizer o autor, não é precisamente a capacidade de todos se insultarem democraticamente sem terem de ir para a prisão? Esta outra falácia de «apelo ao povo» é bastante significativa pelo que tem de democrática: se serve para todos, porque não há de servir para mais um? Afinal, diz o povo, «ou comem todos ou ninguém come»…
O autor do texto termina-o explicitando «um padrão de actuação política» de que a actuação do ministério da educação seria o paradigma: «o lugar dos boys e das girls que, na sua arrogância de vilões a quem puseram o pau na mão, têm levado a Educação do país ao estado em que ela está.» Não fica claro se o autor prefere substituir o corriqueiro «filhos da p…» pelo eventualmente menos gravoso «vilões», mas dá para se perceber, quer seja uma ou outra a preferência, que decididamente, ele alinha pelo nível daqueles professores que, impotentes, substituíram a crítica pelo ataque pessoal. Tanto assim é que, neste momento, este autor, que foi - recorde-se - um intransigente defensor da actual ministra da educação quando esta tomou conta do rumo da educação como a conhecemos, agora alinha pelo mesmo diapasão dos sindicatos - os mesmos que o autor deste texto responsabilizou pelo estado a que a educação tinha chegado -, particularmente, da Frenprof, cujo chefe pede a demissão da ministra. O autor do texto apenas afirma: «O tempo da ministra acabou». Quem diria que eram tão inimigos?
O texto em apreço saiu na imprensa da semana passada.